O sacerdócio somente pode ser compreendido na fé. Ele nasce de um plano do Senhor, que estabeleceu que na sua Igreja, desde as origens houvesse pastores que agissem em seu nome e na sua pessoa. Para isso, desde o princípio, ele chamou alguns dentre os discípulos; os Doze primeiros ordenaram sucessores, os Bispos, que, por sua vez, repartiram com auxiliaress a missão e a autoridade recebidas: os Presbíteros ou Sacerdotes e os Diáconos. Assim, na Igreja de Cristo, o ministério ordenado, isto é, o ministério enquanto instituição divina, articulado desde os tempos apostólicos, consiste no ministério episcopal e seus colaboradores, Presbíteros e Diáconos.
É aqui que se insere o sacerdócio. O padre é, antes de tudo, alguém chamado pelo Senhor, que não escolhe os melhores, os mais capazes; escolhe os que ele quer (cf. Mc 3,13), de acordo com uma lógica que, sinceramente, nos escapa. Esse chamado repercute no coração de quem foi escolhido e é confirmado pela Igreja, que reconhece na pessoa alguém apto para o ministério. Assim sendo, a primeira atitude de quem foi chamado é de admiração e de gratidão pela escolha do Senhor...
O escolhido recebe um selo, uma marca, um caráter, dado pelo Espírito Santo do Cristo ressuscitado, que o torna para sempre apto para agir fazendo as vezes do Cristo, Cabeça de sua Igreja. Esse selo é indelével: não vem da Igreja; é dado pela Igreja através do Bispo que ordena o novo padre, mas não vem da Igreja: vem de Deus que é fiel e jamais retira o dom que concede! Ser padre não é primeiramente um fazer; é um ser, ser bem específico: ser representação viva, verdadeira, profunda, existencial de Jesus Cristo que deu a vida pelo rebanho e por toda a humanidade. Ser padre marca toda a vida de uma pessoa, pois não se trata de uma profissão, mas de um estado de vida, uma vocação.
Essa missão concretiza-se em três tarefas bem específicas que o padre deve exercer em nome e com a autoridade do Senhor. Primeiramente, a missão de anunciar a Palavra de Deus, o Evangelho do Reino dos Céus que Cristo veio proclamar. O padre é um homem da Palavra, uma Palavra que não é sua, mas do Senhor. Esta missão, o sacerdote a realiza na homilia da Missa, na catequese, no aconselhamento, nas aulas, sempre que fala como ministro de Deus, em nome de Cristo, para testemunhar o Senhor e orientar o rebanho. Por isso, não se espera do padre opiniões privadas, mas a Palavra de Cristo tal como é conservada e proclamada pela Igreja com a assistência do Espírito Santo. E a Palavra do Senhor tantas vezes incomoda, questiona, coloca em crise. Dessa Palavra santa, o Padre não é dono, proprietário, mas servidor: ele é o primeiro que será julgado pela Palavra que proclama!
Uma segunda tarefa é aquela de pastorear, dirigir o rebanho em nome do Cristo. Ele não é o dono do rebanho: é o pastor, que dá a vida pelas ovelhas! O sacerdote tem, pois, a missão de dirigir, de coordenar, orientar, discernir e organizar as várias atividades, os vários dons que o Espírito do Senhor suscita na comunidade. Ele sempre deverá recordar-se que o rebanho pertence a Cristo e que sua grande honra é conduzir esse rebanho ao Senhor, sem oprimir, sem estropiar, sem usar as ovelhas. Essa missão de pastor jamais pode ser compreendida funcionalmente, burocraticamente! É com carinho de pai (quem não seria um bom pai de família, jamais será um bom padre!), com afeto quase que materno, que o padre deve cuidar de seu rebanho. Ele não pode ser um solteirão azedo, mas alguém realizado, com o coração cheio de compaixão, ternura e doçura em relação ao seu rebanho. Por isso mesmo o Povo de Deus o chama “padre”, pai.
A terceira tarefa fundamental do padre é a sacerdotal, de santificar o rebanho em nome de Cristo, rezando pelo rebanho, celebrando os sacramentos e, sobretudo, celebrando para o Povo de Deus e com o Povo de Deus, a Eucaristia, isto é a Santa Missa. Quanto é comovente introduzir os fiéis no mistério de Deus pelo Batismo, perdoar os pecadores pelo sacramento da Penitência, selar o amor do homem e da mulher cristãos pelo Matrimônio, aliviar a dor do corpo e da alma dos enfermos pela Santa Unção. Como é belo abençoar, ser canal da bênção e da graça que promanam do Coração aberto do Cristo Salvador! Mas, é sobretudo ao celebrar a Eucaristia que o padre se realiza! Aí, mais que em qualquer outro momento, mais que em qualquer outra atividade, o sacerdote age na pessoa de Cristo: já não é ele quem realiza; é Cristo mesmo quem realiza nele e através dele!
Ora, se essa missão do padre abarca toda a sua existência, ele deve fazer de toda a sua vida uma doação aos outros por amor de Cristo. E isso é expresso de modo particularmente visível no celibato sacerdotal. O padre não casa para ser sinal de pertença total ao Senhor e de doação total ao rebanho...
(Dom Henrique Soares da Costa - Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracaju)
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