A Catequese

20/04/2012
Uma espiritualidade pascal

          Estamos no tempo litúrgico apropriado para tratar deste aspecto da espiritualidade que deve nos animar como catequistas. Dizemos sempre que o grande foco do processo catequético é o Mistério Pascal como centro de nossa fé. Muitas vezes, porém nos atemos apenas aos aspectos históricos ou então litúrgicos dessa realidade. Por mais importantes que  sejam, não podemos nos ater apenas a eles. É preciso transformar em vivência o que o Mistério Pascal significa. Desejo acentuar duas dimensões que precisamos considerar:

          1 – A Paixão e Morte de Jesus nos inspiram uma mística de coragem para enfrentar tudo o que desfigura a vida humana. A Cruz de Jesus é justamente este grande enfrentamento de um sistema que Jesus fez, porque esta organização não permitia o florescimento da vida em suas potencialidades conforme o sonho do Criador. Jesus veio para restabelecer este Projeto original de Deus, atrapalhado pelo homem e suas organizações. Ter uma postura radical a favor da vida de todos os seres do planeta e estar dispostos a doar a vida, dia a dia, por essa causa é assumir este primeiro aspecto do Mistério Pascal. É, portanto, uma atitude pessoal que o agente da catequese precisa testemunhar, além do conteúdo, que naturalmente também precisa ser explicitado.

          2 – A Ressurreição de Jesus, como ápice do Mistério Pascal, precisa despertar em nós catequistas todas as fibras da alegria, da animação, do entusiasmo e vibração. Como discípulos de um mestre que venceu as forças da morte, precisamos caminhar como ressuscitados. Isto significa deixar transparecer em nosso rosto e em todo nosso ser o brilho da vitória da vida. Catequista triste, ranzinza, moralista, negativo diante de tudo, ainda não assimilou as implicâncias da Ressurreição em sua vida. Como poderá passar esta experiência para seus catequisandos, se em sua espiritualidade não está presente?

          Que este tempo nos ajude a crescer nessa espiritualidade pascal, unindo a fé no Mistério Pascal à vida em nosso processo de catequese.  Só assim será verdadeiro o que expressamos em nossas solenes liturgias. E se tornará possível a experiência do encontro com o Cristo Pascal, Luz de nossas vidas.

Pe. Décio José Walker – Assessor Nacional da Comissão Episcopal Pastoral Bíblico-catequética.


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Esta matéria é muito exelente para refletir com as crianças no tempo de Natal.
O Menino Jesus e o Papai Noel



Papai Noel, nossas crianças precisam de símbolos, de histórias, do “faz-de-conta”, além de contos de fada, etc. Você, Papai Noel, veio do norte europeu, tinha o nome de São Nicolau, andava distribuindo presentes. Todavia você sabe que as coisas mudaram, na verdade, no passado você representou o Pai que nos deu seu Filho. Precisamos da paternidade.

Hoje, Papai Noel, você não representa mais nada disso. Sei que esta conversa não vai lhe agradar e, por isso, peço desculpas já antecipadamente. Sim, no Natal, o centro é uma criança pobre, humilde, sem teto, desalojada, na periferia, cheirando esterco. “Um Menino nos foi dado” (Is 9,5). O aniversariante, o dono da festa é Jesus nascido em Belém, “cidade do pão”, ou seja, da partilha, da solidariedade.

Você, Papai Noel, veio do comércio, do mercado, é um marqueteiro do consumismo, um sedutor de crianças, porta-voz das vitrines e compras. Ninguém, Papai Noel, é contra a festa, os presentes, a alegria. Mas nossas crianças acabam esquecendo o Menino que colocou a criança no centro de seu reino. Elas, hoje, são fascinadas pelo consumismo e com voracidade viverão seu futuro como escravas da moda, das compras e do desperdício. Jesus foi desalojado e as lojas endeusadas. Desde aquele tempo até hoje, Deus foi despejado, excluído, abandonado: “Não havia lugar para eles.” (Lc 2,7)

Que pena! Muita gente não acredita mais em nada, nem no Menino e muito menos em você, Papai Noel. Nosso Natal cristão virou feriadão. Apagam-se as luzes da fé e acendem-se as do comércio. O Velho matou o Menino. É verdade que temos gestos lindos de solidariedade, encontros familiares, celebrações litúrgicas. Eis o Natal com Jesus, com o aniversariante, com Maria, José, os anjos, os pastores, os magos. Estes últimos abandonaram suas riquezas, horóscopos e adoraram Jesus. Encontraram o verdadeiro caminho: o Menino e sua Mãe.

Papai Noel, você não precisa desaparecer. Mas precisa mudar. Reconhecemos que você faz gestos humanitários nos hospitais, nas fábricas, etc. Faça como o velho Simeão no templo e ajude-nos a dar o Menino Jesus para as crianças. Que o Menino seja conhecido, amado e seguido. Natal é a historia de uma gravidez não abortada, é uma festa de fé, esperança e amor que todos os domingos é celebrada na liturgia.

Natal é festa da encarnação, da salvação, da partilha, da solidariedade. Nasceu o Príncipe da Paz. Seu trono é fundado na justiça e no direito. O Menino de Belém, com Maria e José, abençoem e nos confirmem no verdadeiro espírito de Natal. Com hinos de glória a Deus nas alturas e com gestos de paz, nos tornaremos mais humanos, alegres, verdadeiros, sensíveis, solícitos e bons. Depois que Jesus veio não podemos viver num mundo sem Jesus e numa sociedade pós-humana. Vamos renascer neste Natal, recuperar o que foi perdido e reencantar-nos pelo Menino.

Dom Orlando Brandes 
Arcebispo de Londrina