Tudo começou de novo com a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Passou o que era velho e tudo se fez novo, a partir de dentro, num
dinamismo plantado no coração de cada cristão que recebe o Sacramento do
Batismo. Caiu a velhice do pecado e do egoísmo, desmoronaram os muros
da desconfiança, da inveja e do ciúme. Os cristãos exultam pela sua
renovação espiritual, pois recuperaram com alegria a condição de filhos
de Deus e podem esperar com plena confiança o dia da ressurreição (cf.
Oração do III Domingo da Páscoa).
Descrever assim a vida pode parecer sonho, quem sabe, uma ilusão, ou
otimismo ingênuo. Alguns chamariam utopia, por não perceberem que o
sentido originário de palavra aponta para o lugar ideal a ser alcançado e
não um projeto imaginário e impossível de se concretizar. É que os
cristãos não têm medo de ver as coisas a partir dos olhos de Deus,
enxergando, além de todas as chagas existentes no mundo, a grandeza o
plano de Deus. “O olho de Deus sobre o mundo é o Coração de Cristo, mas a
pupila é aquela ferida de amor! A ferida está no Coração de Cristo. Ele
foi ferido porque manifestou por inteiro o amor. Ele é o amor do Pai
vindo à terra, e nos amou dando tudo... E nós, se vivermos como Ele,
poderemos olhar por dentro e ver a Deus, e o Pai pode olhar dentro da
chaga do Coração de Cristo e ver a todos nós” (Chiara Lubich, cf. Nuova
Umanità 2012/2, p. 167).
Após a Ressurreição de Jesus, seus discípulos tiveram que aprender
este novo modo de compreender a vida (Lc 24,35-48). Ao mostrar-lhes suas
mãos e seus pés, com as marcas da crucifixão, ele abriu-lhes os olhos.
Não estavam diante de um fantasma! A experiência da presença do
Ressuscitado foi novidade para todos. Madalena pensou estar diante de um
jardineiro, os discípulos de Emaús o viam apenas como andarilho, os
próprios apóstolos à margem do lago não o reconheceram. Os gestos de
delicadeza, com que de várias formas se apresentou aos seus, foram mimos
cujos frutos se multiplicam no correr dos séculos para as sucessivas
gerações de cristãos, das quais nós somos, por enquanto, os últimos! Não
é mais possível ver Jesus Cristo e os acontecimentos com os olhos da
carne. Faz-se necessário dar o salto da fé!
Os primeiros discípulos de Jesus receberam a missão de espalharem
pela terra uma vida nova e um modo novo para compreender o mundo e os
acontecimentos. Cheios do Espírito Santo, eles começaram a pregar o
Evangelho de Cristo. Quando experimentaram a incompreensão e a prisão,
ficavam “alegres por terem sido considerados dignos de injúrias por
causa do santo Nome. E cada dia, no templo e pelas casas, eles não
cessavam de ensinar e anunciar que Jesus é o Cristo” (At 5,41-42).
Quando se desencadeou a perseguição e mataram Tiago, um dos Apóstolos
(At 12,1), “a palavra do Senhor crescia e se espalhava cada vez mais”
(At 12,24). Todos os períodos mais críticos e de maior sofrimento para a
Igreja, com a força da Páscoa de Cristo, suscitaram novos frutos,
quando acolhidos como chamado à fidelidade ao Senhor!
Até hoje, “no jardim da Igreja se cultivam as rosas dos mártires, os
lírios das virgens, as rosas dos casados, as violetas das viúvas” (Santo
Agostinho). Cada pessoa, segundo a vocação e o estado de vida que lhe
foi concedido pelo Senhor, é chamada a “ser testemunha” (Lc 24,42). Sua
vida fará referência a valores consistentes, que não se abalam com
ameaças, segundo a orientação do Apóstolo: “Não seremos mais como
crianças, entregues ao sabor das ondas e levados por todo vento de
doutrina, ludibriados pelos homens e por eles, com astúcia, induzidos ao
erro. Ao contrário, vivendo segundo a verdade, no amor, cresceremos sob
todos os aspectos em relação a Cristo, que é a cabeça” (Ef 4,14-15).
Comprometer-se com a verdade, denunciar o mal existente, indicando em
Jesus Cristo o único caminho e o remédio eficaz, orar pelos que nos
perseguem, tomar a iniciativa da caridade, perdoar sempre, valorizar
mais o que une do que o que separa as pessoas, esperar com paciência a
vitória do bem, são algumas das muitas possibilidades para oferecer o
testemunho de Cristo em todos os tempos, inclusive o nosso, a partir do
olhar da pessoa que entrou no Coração de Cristo, para ver tudo através
da chaga aberta em seu peito. Ali, o cristão se sente cômodo, sem ser
acomodado, para não ficar sossegado até que os confins da terra
reconheçam que Jesus é o Senhor.
Por Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém Fonte: (ZENIT.org)
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